Logotipo ou logomarca?


"Logomarca? Qual seria o sentido dessa genuína invenção brasileira? Logomarca quer dizer absolutamente nada."

No Brasil, de uns anos para cá, o termo logomarca passou a galvanizar o universo da identidade visual e muitos dos envolvidos em sua dinâmica. Nesses meios, logomarca passou a ser sinônimo de símbolo e de logotipo, designações que as primeiras gerações de designers aprenderam a usar e que ainda vale para qualquer país em que a atividade tenha atuação significativa.

Na verdade, logomarca é uma dessas criações tipicamente brasileiras que, assim como a compulsão para inventar nomes próprios, por exemplo, definiriam o brasileiro como um indivíduo imaginoso, pouco afeito à convenções. No entanto, convertamos a capacidade de inventar, por si só, não encerra mérito nenhum. Não se vai para o paraíso só porque se é inventivo. Mesmo porque, ao que tudo indica, o diabo sempre se mostrou extremamente engenhoso.

Mas, voltando à mania nacional de inventar nomes próprios, há quem veja nela inquestionável tendência poética ou mesmo propensão á rebeldia. Provavelmente não se trata nem de uma coisa nem de outra. Não somos um povo de índole guerreira. À parte algumas exceções sangrentas, impostas pela classe dominante Àqueles em que se habituou mandar, a nossa tem sido uma história de contemporizações. Quanto à veia poética, não parece que no Brasil ela seja mais vigorosa do que em qualquer outro país, só porque inventamos os desfiles de escola de samba. Dar ao filho o nome de Guiomar, do pai Otacílio e da mãe Maria; Augari, do pai Ariosto e da mãe Augusta; Auny do pai Nyvaldo e da mãe Áurea ou ainda destiná-lo a carregar pela vida afora achados engenhosos, como Odalina, anilado ao contrário, soa mais como manifestação de gosto duvidoso. Ou talvez traduza a necessidade de individualização, através do prenome, num país onde os sobrenomes de origem portuguesa são escassos e, porta nto, pouco distintivos. Seja como for, o uso intensivo que vem se fazendo da palavra logomarca parece se inserir nesse contexto de compulsão criativa a qualquer preço.

Logomarca, um erro

O design é uma profissão nova e por isso padrões ainda não existem ou estão sendo produzidos e difundidos. Não temos padrão para quase nada, desde salário até saber o que é e o que deixa de ser a profissão. Entre esses padrões que ainda não existem, está o padrão terminológico. Em profissões antigas os termos estão bem claros e não há dúvidas sobre eles, mas no nosso caso, sempre temos que estudar um termo novo para verificar se a utilização dele é correta ou não.

Muito utilizado principalmente por publicitários e marketeiros, este termo tem se difundido também entre os profissionais do design para se referir ao logotipo. Muita gente diz que está errado, outros dizem que está correto, alguns defendem o neologismo, outros afirmam que é uma aberração, mas só a pesquisa nos trará luz à questão.

Justamente por causa dessa falta de paradigmas alguns profissionais e professores utilizam e difundem termos que não são os melhores para determinados objetos. Um deles e talvez o mais polêmico seja o logotipo.

Vira e mexe temos a mesma discussão sobre esse termo, por isso eu penso que seja muito importante sermos bastante sérios a este respeito, para o bem e o crescimento dessa profissão. Então vamos analisar alguns termos e sua raiz etimológica para ver se estão corretos ou são só vícios de linguagem.

Logomarca como neologismo

Neologismo é a criação de um nome novo para alguma coisa, ou um novo significado para um nome velho. Para que a "logomarca" seja um neologismo, temos que admitir que é um termo novo ou que é um termo antigo que está sendo tomado por um novo significado. Sim, admito que "logomarca" é um termo novo, mas isso não significa que seja correto empregá-lo como sinônimo de logotipo. Qualquer palavra pode ser um termo novo para algum objeto, desde que o povo a utilize para este mesmo objeto ou sentido. Mas isso não significa que esteja correto. A menos que seja uma forma conotativa da palavra, o que não é o caso da logomarca, desde que este termo é utilizado para um único tipo de objeto e significado. Então, não podemos aceitar o termo logomarca simplesmente por ser um neologismo.

Sentido etimológico do termo

O termo logomarca é formado pela união de "Logo" e "Marca".

Logo, vem do grego Lógos. Significa palavra, uma narração ou pronunciamento, verbo, conceito, idéia. Mas não palavra como esta é falada ou escrita, mas o significado dela, ou seja, o conceito. Reforço ainda o conceito de Logos, dizendo que o termo "palavra" puro e simples no grego é Lexi.

Marca, vem do germânico Marka. Quando traduzimos do germânico, ou mesmo do português ou inglês para o latim temos o termo Signum, que traduz-se claramente para significado. E mesmo no português, e no uso moderno da palavra, marca significa tudo aquilo que uma empresa representa. Sendo assim, logomarca é um termo redundante: significado do significado. Assim vemos porque não podemos utilizar este termo para falar sobre um Logotipo.

Logotipo, um possível padrão

Nunca vi absolutamente ninguém dizer que este termo está errado. Mas mesmo assim, vamos analisá-lo para ter certeza disso. Esta palavra é formada pela união dos termos "Logo" e "Tipo". "Logo", como já foi explicado, significa o conceito, idéia ou significado de uma palavra.

Tipo, do grego týpos. Em inglês traduzimos para type, que para o português significa tipo, gênero; figura; sinal, símbolo; modelo, amostra, maquete. É aí que mora o perigo: é muito mais difícil estudar qualquer assunto em português do que em inglês porque temos muitos significados para uma mesma palavra. Tipo neste caso significa um sinal ou símbolo, uma figura, um desenho. Exemplo: as vogais como "a", são tipos (símbolos gráficos) dos sons que emitimos.

Para este mesmo termo, temos ainda dois outros correspondentes em grego. Se você procurar um bom léxico inglês-grego, e procurar o termo logotype (tudo junto, não um depois o outro) você vai ver que symplegma e logotypos têm o mesmo significado já explicado acima. Aliás, poderíamos mesmo adotar como um neologismo o termo "symplegma". Imagina só o seu diretor de arte dizendo: "hum, esta symplegma não está como o cliente pediu"!

Sendo assim logotipo é: o símbolo visível de um conceito. Este termo é perfeito para o que ele significa, pois é justamente o que fazemos. Temos uma empresa cliente que nos dá um conceito (logo) a trabalhar, e nós somos incumbidos a fazer um símbolo gráfico (tipo) para este conceito. Este tipo pode ser somente um desenho, sem nenhuma letra para se ler, ou somente as letras do nome da empresa, mas desenhadas de forma que mostrem o conceito. Ou pode ser um desenho e o nome da empresa, juntos, mostrando o símbolo gráfico de um conceito ou logotipo.

Sinal gráfico, uma alternativa coerente

Alguns mestres de programação visual e outros profissionais estão trazendo este novo termo, este sim um bom neologismo, para o meio. Sinal, do latim Signum, significa tudo que faz lembrar ou representar alguma coisa, ou seja, um significado ou conceito.

Gráfico, do grego Grafikos, significa alguma coisa colorida, pintada, desenhada, uma representação visual de algo. Seria um sinônimo de typos, porém com uma conotação de cor, colorido e menos de um símbolo gráfico, ainda que tendo sim este significado. Sendo assim, sinal gráfico significa também: o símbolo visível de um conceito.

Identidade visual, muito bom se usado corretamente

Este é outro termo utilizado por alguns designers, tem um significado bem claro e objetivo. Identidade é o conjunto de peculiaridades de uma pessoa, coisa ou empresa. Visual, o que se pode ver. O problema desse termo é que ele não enfoca o conceito, a idéia, a palavra. Mas significa, no ramo do design, as peculiaridades gráficas de uma empresa. Essas individualidades visuais são muito mais abrangentes que somente o logotipo, pois abrangem o site, os cartões de visita, os carros, uniformes, enfim, todo aparato visual de uma empresa.

O termo correto, sempre!

Como já disse, somos já membros de um corpo de profissionais que sofrem bastante com a confusão que a sociedade ainda faz conosco, por ser o design uma profissão nova. O mínimo que podemos fazer é ser coerentes ao falar de um dos mais importantes ramos de atividade do design que é a logotipia.


Ana Luiza Escorel - Em "O Efeito Multiplicador do Design" - Editora Senac,pág. 56
Gilberto Alves Jr. - http://www.designgrafico.art.br/pontod/mural/logomarca_erro.htm

0 comentários:

Postar um comentário

 
©2009 Design de Fachada | by João Gabriel